quarta-feira, 23 de junho de 2010

O TJA recebe hoje o grupo peruano Yuyachkani, que leva ao palco principal o espetáculo "No me toquen ese valse", no II Zona de Transição

Um olhar sobre a condição dos artistas em tempo de violência. Com essa proposta surge o espetáculo "No me toquen ese valse", do grupo peruano Yuyachkani, em cartaz hoje no Theatro José de Alencar, dentro da programação do II Zona de Transição - Encontro Internacional de Artes Cênicas, que acontece até o próximo dia 26. Com mais de 30 anos de história, é a primeira vez que o grupo Yuyachkani se apresenta no Ceará.


"Yuyachkani" é uma palavra quíchua (família de línguas indígena da América do Sul) que significa "eu estou pensando, eu estou lembrando". Sob esse nome, o grupo de teatro tem se dedicado à exploração coletiva da memória social no corpo, particularmente em relação às questões de etnicidade, violência e memória no Peru. Encenado desde os anos 90, o espetáculo "No me toquen ese valse" traz uma série de canções e textos para contar a trajetória de artistas mortos, que voltam ao palco para atestar o ocorrido em suas vidas.

A peça é uma criação coletiva do diretor Miguel Rubio e dos atores que nela contracenam: Julián Vargas (Abelardo) e Rebeca Ralli (Amanda). A ideia surgiu a partir da leitura da obra do poeta espanhol León Felipe, para a realização de outro espetáculo, "Encuentro de Zorros" (1985). No fim, a atriz Rebeca Ralli continuou com as pesquisas em torno de León Felipe, cujos poemas inspiraram a criação desta nova peça.

Eventualmente, o grupo afastou-se do texto verbal e passou a investir mais nas imagens suscitadas pelos poemas. As vivências do escritor no contexto da Guerra Civil Espanhola serviram de eixo condutor para a construção do roteiro.

O trabalho seguiu com a criação de músicas para os poemas, até chegar-se a um espaço cênico definido: cantores que ficaram presos em um bar no centro de Lima, bombardeado pela guerra. Assim, já não se tratava mais dos poemas, mas da violência na cidade.

Segundo Izabel Gurgel, diretora do TJA, "o contato com o grupo Yuyachkani interessa muito porque eles construíram juntos, como grupo, o que desejamos para a cena no Ceará: coletivos artísticos com sede própria, com espaços cênicos abertos a apresentações de outros grupos, com vida em intercâmbio, em estado de troca, com outros solistas e grupos de vários lugares do mundo. Um grupo artístico como uma força que passa a intervir com outras na vida da cidade", comemora.

Ao mesmo tempo, Gurgel destaca que a presença dos peruanos em Fortaleza é uma possibilidade de contato maior com a vastidão da América Latina, "próxima a nós geograficamente, mas tão distante, porque sabemos tão pouco de sua pujança de vida", ressalta.

Para a diretora, "No me toquen ese valse" tem uma dramaturgia híbrida, tocada pelo criollo (os mundos criados nos encontros dos espanhóis com os povos que já estavam no que seria a América Latina, mais os migrantes que viriam) e o rock.

"Em cena, aparece a cidade à noite, Lima noturna: depois de mortos, os cantores voltam aos bares onde atuavam", observa Gurgel. Hoje eles cantarão suas lamúrias.

Fique por dentro

Intercâmbio

Segundo a diretora do TJA, Izabel Gurgel, na trajetória recente do Theatro, "os encontros com a América Latina têm sido vigorosos, potentes. Foi assim com os palhaços Maku Jarrak e Chacovacci (outubro 2008), de Buenos Aires; com o paraguaio Hara teatro Danza (dezembro 2008), de Assunção, que volta ao TJA agora para o II Zona de Transição; com o chileno Oskar Zimmermann (junho 2009), que retorna ao TJA em julho no intercâmbio Brasil-Chile. Agora mesmo, no II Zona de Transição, estamos comovidos com a graça e a generosidade do palhaço mexicano Aziz Gual e cheios de vontade de ver a força do Hara em cena. O grupo se apresenta sexta, dia 25, com "Cenizas", sobre a guerra do Paraguai pelo olhar das mulheres". A oportunidade do encontro é reforçada pela entrada franca a toda a programação.

MAIS INFORMAÇÕES:

No me toquen ese valse
Hoje, às 20h, no TJA (Praça José de Alencar, s/n, Centro). Gratuito.


ADRIANA MARTINS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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